O dia da criação

Ontem, desanimado, custei a cochilar, sim, apenas um cochilo, faz tempo que não tenho uma boa noite de sono. Não é por nada não, acho que vem da idade mesmo, afinal, são pelo menos uns 40 anos vividos em um, não é?
Acordei hoje com uma imensa dor de cabeça, sozinho, todos saíram, não sei, acho que há uns cinco ou seis anos, mais ou menos. Mas notei isso hoje. Sei lá, acho que o costume era eu ficar sozinho, mesmo com a casa cheia, sempre sozinho, jogado num canto, dentro da multidão de almas perdidas em espaço tempo e razão.
Mas por que será que só percebi isso agora e por que eu não sei se estou sentindo falta ou é apenas uma alegria que surge queimando meu peito e fazendo com que a agonia que envolve meu ser por completo se dissolva num mar de histeria e cansaço.
Não sei, na verdade nem sei com quem eu estou falando, aquela imagem ali no espelho, aquele sou eu? Nossa, realmente estou velho, ontem estava cansado, desanimado e hoje, estou velho, mas noto que tudo ao meu redor está alterado. Não reconheço este lugar, não me reconheço neste lugar, quem sou eu?
Antes, me chamavam de ninguém, de invisível... hoje? não em chamam, não existe nada, ninguém deixa de ser eu para se tornar todo mundo, mas onde eles estão, isso me incomoda, me amedronta, mas me deixa em paz...
Saio a procura deles? de quem? hoje é o meu primeiro dia e vida!

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