Américo Vilalba, por ele mesmo

O que faz Américo Vilalba às 3 da manhã naquela meia luz, um copo de gim, sua inspiração? A solidão o afaga. Em frente, papeis, canetas e lamentações.
O que faz Américo Vilalba, em sua sempre nublada escrivaninha? Vida vivida por choros e lembranças sonhadas, revoltado por não ter mais tempo de entender.
Será que foi apenas um sonho? Uma vida inteira sem ter vivido um dia sequer? Este é o seu questionamento e tormento.
Linhas e mais linhas de melancolias, escrita com a mão trêmula de pavor. Mais um copo transborda o vazio em que se resume toda a sua espera. Quem sabe assim, Américo consiga esquecer-se. Esquecer o nunca vivido, mas como poder esquecer tanto assim, a ponto de negar-se? Tristeza? Não, falta de crença mesmo.
O que faz Amério Vilalba? Quando se descobre, escolhe desistir.

Pra que?

De que adianta poder?
De que adianta querer, tentar, pegar...

De que adianta sofrer?
De que adianta sonhar, atar, ater...

De que adianta morrer,
Ter para ter que deixar?

De que adianta amar,
Se nem pode chorar?

Tia, por mim






queria escrever algo com conteúdo, algo que transmitisse exatamente aquilo que sinto neste momento. Porém, meus sentimentos estão tão atormentados que não me permitem compartilhar estados de espírito.

escritices de pra lá da meia-noite

se viver de arte é ser burguês, sim, faço questão de dizer que sou o maior deles. Bato no meu peito e, com fervor e louvor, digo que minhas rotas finanças são destinados aos assentos das platéias, às lojas de sons e folhas.
se burguês é 'perder' tempo com interpretações desencontradas, que eu nunca encontre a linha da normalidade!

********************

ó vida, louca por uma espera
espera por uma vida que não é esfera.
ex-fera, que se alimentou de minha terra,
e do meu coração, já fez tela.

********************

por que seguir o que está escrito, quando posso ser borracha e apagar tais palavras?

********************

pode ir embora, saia já daqui.
mas não deixe nada para trás,
nem tuas palavras, nem tuas canções.
apenas a vida vivida por nós.

********************

como é que se chama mesmo?
é, aquilo, tipo esse negócio aí.
nossa, tá vindo, é...
lembra aquela coisa?
ai, tá quase...
exatamente!
acho que é isso o nome daquilo.

*******************

poeminha bêbado, 
faço a ti em noite de sem sono.
no efeito da vodca, planos e sonhos.
após um dia etílico, insano.

********************

ai de nós se não fossemos fantasmas
a vida passaria percebida
aos feitos de ossos e saturação
a morte se tornaria acalanto e poesia
o sonho, a dor ilustraria
a esperança, apenas uma espera
ai de nós se não fossemos fantasmas

********************

se fosse feito apenas dos que se consideram loucos, o mundo seria normal.


O Evangéio segundo o homi do sertão - Weslley Moreira de Almeida

Certo dia Deus acorda
Oia aqui pra baixo e diz:
- Oxente! Esse povo tá ficano doido é?!
Criei a terra, o céu e o mar
As pranta e os animá
E eles – homi e muiê
Mas tá um no prato do ôtro meteno a cuié,
Tão se acabano, acabano o praneta, moço
E oie que no iniço tudo era bão, desde esboço!

As injustiça tá arretada
Os homi só qué dominá
Os seres que se dize humano
Qué é mermo enfiá a faca no buxo do outro,
Como se diz entre eles mermo,
“Farinha poca meu pirão primero”
É tanta gente desumana precisano se consertar...
Já tô veno...
Vô tê que mostrá pra esse povo a agir como gente mermo...

Jesus meu fio, venha cá!
Oia pro desgracero que tá se assucedeno lá imbaxo
Minhas criatura prefirida meu fi!
Essa gente tem é sorte, vice
Pro mode se num fosse meu amô pro eles
Que é maió do que seus pecado
Eles tarium tudo arruinado, fritim,fritim...
Todo mundo lascado.

-Não se apoquente meu pai
A gente já vai arrersorvê esse causo
Num vai ser farci não
O cálice é pesado
E o que se tem nele, é amargo
Mas há o que se fazê.

- Ta bom meu fio
Entonce tu vá lá
Pra lá eu te enviu
Pra esse povo sarvá
Purque a iniquidade
Já num ta mais pra se guentá.
Num é que Jesus foi mermo homi?!
Desceu em forma de gente
Num ventre de uma tá de Maria
Lá de Belém da Judea
Muiê virge, valoroza, de fé
Sofreu restrição sociá da comunidade
E até mermo
De seu marido, José
Que num entendeu nadica de nada
Da gravidez inesperada.
Mas Deus-Paim mandô um anjo
Pro mode falá cum ele, o José
Através dum sonho
E expricá o acontecido
E só depois disso entonce
É que se ficô tudo compreendido.

Após muita aflição e perseguição
Nosso Sinhô teve que nascê num dormitório de jegue
Numa tá de manjedora lá
No meio de animá e de capim
Pro mode de não ter dindim
Pois num era de familia de posse
Êita que situação ruim...

Mas tudo acabou-se dano certo
Essa criança foi cresceno, cresceno...
Em artura, matutez e graça
Diante dos homi e de Deus.
Aos trinta ano foi batizado
Prum tá de João Batista, seu primo
Que vivia no deserto
Comeno uns garfanhoto e mé sirvestre
Pregano arrependimento
Às vibura da época
Escribas e farizeus
Ô raça de cabra safado...!
São piores do que um ateu...
Mas deixa isso pra outra conversa
Vamo dá continuidade ao causo em pauta.

Pois entonce, logo depois desse batismo
Nosso sinhô contemprô o Esprito Santo!
Que veio sobre ele e disse:
“Esse é meu fio amado
Em que tenho prazê danado!”
Aí sim o Nosso Sinhô começô seu ministero
Que foi grande de arruiná
As estrutura sociá da época.
É que ele – Nosso Sinhô,
Começô a curá
Libertá
Ensiná
Restaurá

Aos rico pregô pobreza de espríto
E aos pobre abraçô com riqueza de amô.

Mas um tá de Judas, um dos seu dircípro
Quis colocá tudo a perdê
Mas Jesus não ficou arretado com ele não
Já sabia de tudo...
Isso já tava inscrito nos prano divino
Pois pra o nosso Deusim nada é oculto.

Desde aí entonce
Nosso mestre foi cuspido
Deram com um caniço em sua cabeça
Puseram nele um pano avermeiado
E uma coroa cheia de espinho.
Fizeram gozação com ele, moço...
O chamano com muito sarro de “rei dos judeus”.
Colocarum num madeiro
O prego lhe fez muita dô
Os espinho lhe aprofundava o coro da cabeça
E ele, sufocado, agonizô.

Mas nosso Sinhô num desistiu não
Tava por demais arresovido
Prosseguiu
Se manteve firme
Até o finá ficô.


É aquela cruz era que nem mandacaru
Dolorida e espinhosa
Mas de onde se saia líquido em tempo sequioso
Dali saiu líquido precioso
Pra nossas arma banhar.
E como as água do velho Xico
Irriga, transforma, faz nossa vida briá.
Retirarum seu corpo da cruz
Colocarum num túmulo
Num negócio chamado sepucro
O cemitério deles lá
E nele ficô até guarda a vigiá
Mas num adianto não
Mermo assim a pedra rolô
Ele resucitô
Ressurgiu dentre os môrto
Se levantô
Êita cabra arretado é o Nosso Sinhô!

E hoje Ele cum essa atitude de amor
Um candiêro eterno nos dexô
E nele a chama inapagarvi
Da esperança e do amô
Pra andarmo iluminado nesse mundo de escuridão
Viva a Nosso Sinhô!

Coração em pó - Natália Mallo

Será que o coração é só
Uma pá de areia
Que o mar leva e trás todo o dia
E a gente nem suspeita
Será que o coração é só
Grão de açucareiro
Que a cigarra trás da cozinha
Do grande formigueiro
Será que o coração é só
Cósmica poeira
Que o luar conduz e alinha
E o tempo vem e cheira
Será que o coração é só
Cinza da cabeça
Que quer fogo de pomba-gira
E fuma-se a si mesma
Coração em pó
Uma colher dá 500mL
Coração em pó
Faz bem pra alma, emagrece e hidrata a pele
Coração em pó
Desencantado artificialmente
Coração em pó
Tudo que em mim está pensando

Saber Viver - Cora Coralina

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

última palavra - lestics

a última palavra é sua
fique com ela pra você
meus argumentos acabaram
resta o meu silêncio pra te convencer

a minha taça está vazia
e você não tem lágrimas pra oferecer
longe demais é o lugar
que a gente vai pelo prazer de se arrepender

eu continuaria
se não fosse o cansaço
eu não festejaria
essa derrota nos seus braços
da vida, sabemos dúvidas
da vida, levamos rusgas
da vida, lembramos dívidas
da vida, deixamos músicas

inconstância

estar aqui,
pensar alí,
fazer aquilo,
motivar aquele,
exigir isso,
tornar, talvez.

falta de criatividade

querer colocar no papel,
uma dor que você não sente
querer rabiscar,
um coração insolente
querer transmitir,
uma emoção inconsciente
querer expressar,
uma mentira indecente.