poema para ontem

hoje, um dia muito feliz, seria.
hoje, uma luz brilharia,
hoje, essa luz está mais fraca.
hoje, quero que o amanhã chegue,
hoje, a vida já está atrasada.
escravidão,
a dor das chibatadas.
os dias se repetem,
um a um.
um pouco mais de vida nessa existência,
apenas isso que peço em minhas orações.
mais suor, mais ser, mais sentir.
sonho em não apenas levantar-me,
quero acordar!
como a água de um rio morto,
meu coração se perde
envolto por luz negra...
vida de poeta,
a vida imitando a vida.
o dia fingindo amanhecer,
a noite, brincando de se esconder.
o caminho não leva, traz.
o desejo não quer mais.

dia de poeta,
farsa
a mais pura verdade.
sou um palhaço sem circo,
sem vida, sem rumo.
meu nariz escorre sangue, vermelho.
meu sorriso está chorando.

sou um palhaço sem circo,
meus sapatos encolheram,
a flor da lapela não desabotoa mais.

sou um palhaço sem circo,
a gravata, me enforcou.
noite fria,
cidade gélida,
palidez soturna,
canto engasgado,
vida de esperança.

fé sempre renovada,
a busca pela vitória,
dores mascaradas,
ilusão alimentada,
arte de morrer!
cabeça de gente,
cabeça de boi
rumo à morte,
rumo ao corredor...
matadouro, metrô.
T A N T O

                               

                                   PASSO

                                                     pequeno.
tanto de você aqui,
cada vez mais dentro,
cada vez mais fundo,
profundo,
pro fundo
num coração raso.
acho que assustei crianças
cuspi em seios desnudos,
comi a carne, me fiz serpente.
maçã podre, num cesto cheio...

procurei razão,
encontrei desilusão,
mentira,

redenção,
10 aves marias.

putrefação.
'quero o vinho quente do seu coração'!
embriagar-me de suor,
do teu, do nosso,

a gente

todos, tudo junto!
nós dois pra sempre, sempre...
noite linda,
eu e mainha.
brilho de luz,
brilho que nunca se apaga.

rumos de prosa,
mapa de tesouro,
ouro,
aparecida,
outro dia, outra vez...

luminESSÊNCIA!
quero vivo
quero firme
quero quente
quero manso
quero tudo
quero dentro
quero anti

quero a ti
quero a mim
quero grito
quero guerra
choro, calor, clamor
quero também...

quero brisa
quero tempestade
quero em mim
quero vivo
quero paz

QUERO

QUERO

QUERO

Quero

quero...

NÃO!
dores de uma vida sem luz,
minha caminhada por ruas escuras,
sinal de ser dentro do breu.
respiração ofegante, quase me levanto,
sonho sem respostas,
fim muito próximo,
amanhã, outra vez...
prego prega,
pingo pinga,
pinto pia,
pipa empina,
vida? dorme...
água,
pedra dura,
tanto,
coração fura...
lágrias da madrugada,
as mais cortantes.
versos perdidos,
os últimos suspiros.

a dor incomoda,
peito aperta,
planos, se apagam,
esperanças enfumaçadas.

a solidão,
companheira de copo.
a música no fundo,
única forma de preencher.

a dúvida,
minha maior certeza.
mais uma lágrima escorre,
e o que resta? Adeus!
assim como o Pestana, do Assis,
busco minhas óperas,
rimas, amores...
assim como o Pestana,
escrevo palavras,
escrevo sonhos,
sem rumos, sem vida!
eu e o espanto,
companheiros de pranto,
perdidos pelos cantos,
nas sombras de um coração vazio...
desnudou a alma,
transformou-se em luz,
brilhou...
um brilho diferente,
sem estrelas,
sem céu,
um brilho... você 

para Vera Di Sêvo
Como a Bia, recebendo a touca do Encrenca, me sinto despedindo da vida sempre que acordo.
A angústia me toma, não por querer encontrar respostas, mas sim, por não saber o que perguntar.
Quero ser o eu dos meus sonhos, aquele que via nos vinte anos, esse que nunca acontecerei.
Busco conquistar algo, não tenho forças, não tenho grana.Tenho lados vazios, solitários.
Acredito ainda numa Ipanema ensolarada, numa Paulista parada pela poesia, num sorriso estampado, junto do verde, junto do ouro... junto do outro.
sentir dor,
se entregar a dor,
viver por ela... dói!

da vida, mais passos soltos,
mais abraços soltos,
mais sorrisos leves,
mais dentes nos rotos.

penso em dizer não,
solto logo um sim.
penso em sair do mundo,
acordo, ignoro tudo.

assim vou levando,
sem poder o que quero,
sem ter meus amores perto,
sem ser o meu sonho sonhado.

assim continuo,
rindo da vida enciumada,
sentindo o que dá para sentir,
sonhando comigo, cada vez mais.
o caos está controlado,
as bagunças, catalogadas.
estantes de vias,
dão ordem ao que não tem que tê-la.

caminhos cruzados,
GPS ligado,
necessidade da perda,
o dia me encontra.
Grão de areia ao vento,
Rumos esquecidos no tempo,
Amores vão, em vão,
Saudades, apenas saudades,
Fazem-me lembrar.

A vida passa, o tempo some,
As lágrimas surgem, feridas que rasgam,
Aprendiz de dores, de nada.
Saudades, apenas saudades,
Fazem-me lembrar.

As sombras dominam, contaminam.
Os dias escurecem, somem,
Não são.
Saudades, apenas saudades,
Fazem-me lembrar.

Eu corro,
Tento fugir de mim,
Persigo-me.
Saudades, apenas saudades,
Fazem-me lembrar.

Sou mais rápido que eu mesmo,
Alcanço meu ser,
Sorrio, perverso.
Saudades, apenas saudades,
Fazem-me lembrar.

Entrego-me a mim,
Volto, vejo minha alma,
Encontro amores, sinto mais uma vez.
Saudades, não apenas elas,
Fazem-me lembrar.

O dia acorda, a noite cai,
Sorrindo, lembro-me das saudades,
Percebo vida além delas.
Amores, novos amores,
Com eles, volto a viver.
Alma, 
Translúcida,
Se apaga,
Se apaga,
Se apaga.
De manhã,
Some de mim.
palavra,
viva alma,
luz que brilha,
tanto ilumina,
tanto é perdida.

palavra,
dor continua,
sonho também,
alegria de agora,
futuro para ninguém.

palavras,
estrela viva,
sopro de paz,
tormenta fugaz,
ilusão, palavrão!

palavra,
aquela que acolhe,
as vezes, destrói,
parece vilão,
assim, desconstrói...
luz apaga,
gato berra,
tiro explode,
sono?
este acorda...
de sonho em sonho,.
espera...
de sono em sono,
acolhe...
de sonho em sonho,
recolhe...
de sonho em sonho,
devolve...
a esperança se torna objeto,
de tão perto, se afasta.
a vida, remói, corrói, dói.
mais um dia, e o sorriso se reconstrói.