Você pode ir na janela - Gram

Se não vai
Não desvie a minha estrela
Não desloque a linha reta

Você só me fez mudar
Mas depois mudou de mim
Você quer me biografar
Mas não quer saber do fim

Mas se vai

Você pode ir na janela
Pra se amorenar no sol
Que não quer anoitecer

E ao chegar no meu jardim
Mostro as flores que falei

Vai sem duvidar
Mas se ainda faz sentindo, vem
Até se for bem no final
Será mais lindo

Como a canção que um dia fiz
Pra te brindar

Você pode ir na janela
Pra se amorenar no sol
Que não quer anoitecer
E ao chegar no meu jardim
Mostro as flores que falei


Você só me fez mudar
Mas depois mudou de mim

Dumont

Metralhadoras, bombas, terror...
Dumont chora, Dumont vive!

Medo, sangue, dor...
Dumont chora, Dumont ainda vive!

Voos, vidas, mortes...
Dumont chora, Dumont desiste!

Somente à verdade sobrevivemos... será?

Todos falam em verdade com uma facilidade imensa, dizem que não devemos mentir, que enganar as pessoas só as prejudicam e ainda, que “mentira tem perna curta”. Porém, grandes mentiras fazem parte de nossa história e cultura, ou o leitor acredita realmente nos livros pedagógicos?
Os cruzados eram tão bonzinhos que invadiram o território árabe a fim de proteger a Terra Santa dos cruéis otomanos?As cartilhas escolares se esquecem de que a Europa estava mergulhada em uma crise econômica e que os heróis da Cruzada dos Nobres e das demais “limparam” o antigo Crescente Fértil e o Golfo Pérsico medieval, confiscando todas as riquezas daquele povo e dizimando populações inteiras, em nome da primeira Guerra Santa conhecida.
A Igreja protagonizou uma outra grande mentira, na verdade, várias mentiras englobadas em uma soberana, a Santa Inquisição. Época em que era bem mais cômodo mandar matar ao passo de defender suas idéias argumentando. Época em que a censura estava escancarada e não se podia sequer pensar contra o sistema, que o digam Joana D’arc, Jaques DeMolay entre tantos outros.
Como estas, muitas outras grandes mentiras estão aí, todos os dias, sendo ensinadas nos bancos escolares, grandes guerras mundiais, decisões políticas daqui e d’além mar, expansões territoriais européias, cura de doenças, imperialismos modernos, guerras de auto-afirmação travadas pelos Estados Unidos e contra eles mesmos, alguns presidentes, como o nosso metalúrgico barbudinho, enfim, estamos cercados de grandes e pequenas mentiras, o sistema é mentiroso.
Nosso dia-a-dia nos induz à mentira, pessoas mentem para manter ou até salvar negócios, empregos, amizades ou casamentos. A relação humana é baseada na mentira, o comércio, com a ascensão da pirataria, a indústria publicitária massificadora e perversa, tudo está envolvido pela fumaça da mentira. E ainda assim, todos falam em verdade, em princípios, mas aí cabe uma pergunta: será que a própria verdade não se tornou uma grande mentira?
Não estou aqui para fazer qualquer apologia á mentira, só considero a verdade, em nossa sociedade, um sonho distante, tão utópica quanto o marxismo.
Seria lindo vivermos em um mundo das fadas, sem mentiras e que se cada um fizesse sua parte, teríamos alguma chance de vivermos próximos a tal mundo, contudo, até quanto é interessante fazerem suas partes, quem vai parar de mentir e correr o risco de deixar o poder ou ainda, quem falará a verdade sem ansiar em tirar o outro desse poder. A população está acostumada com a mentira e, por conseguinte, não acredita mais na verdade das coisas.
Eu tento fazer a minha parte, ou seja, escrevo...

Se o alienista estivesse vivo...

Algumas vezes, peguei-me pensando no desespero de Simão Bacamarte, o alienista machadiano que tratou a loucura em Itaguaí, se vivesse em nossos dias.
Será que a Casa Verde estaria repleta de pacientes? ou, seria Bacamarte, ainda, seu único interno?
Acredito que Simão ficaria louco sim, principalmente após buscar por lunáticos de nosso Brasil. De Sarneys a Luiz Inácios, o país está lotado de dementes, dignos dos cuidados do médico. A pergunta, agora, é: será que o alienista conseguiria erradicar a insanidade brasileira ou ficaria como Papai Noel em uma arena de tourada?
É, Bacamarte teria um grande desafio, só para começar, curar uma grande parte da população, que comemora os 50 “contos” das “Bolsas Pelo Amor de Deus” DADAS pelo governo e se acomoda em frente da Rede Globo, para assistir à novela das famílias perfeitas e sem problemas, e depois dizem que “Pão e Circo” era apenas política do Império Romano. O médico também teria que fazer terapias com aqueles que matam serviço, esquecem da família, enfim, esquecem de viver para acompanhar o Datena ou, para ser mais atual, o Geral do Brasil. Simão deveria ainda, cuidar dos eleitores de Malufs, Pittas, Collors e tantos outros bandidos públicos, curar os seguidores da Lei de Gérson, os fanáticos religiosos, os que não acreditam na importância de uma boa educação para salvar um país em freqüentes crises sociais.
Simão Bacamarte fez sucesso em Itaguaí, lotou sua casa de recuperação, ora com dementes, ora com pseudos sãos, curou a todos e terminou sua vida envolto na loucura dos curadores de loucos, enclausurado em sua própria “Casa Verde”, porém hoje, devido aos absurdos tão comuns, já incorporados em nosso cotidiano, Simão Bacamarte, o célebre alienista, contado por Machado de Assis, não se atreveria internar outro paciente que não ele, em seu manicômio particular, pois seria apenas mais um louco dentre todos os que corajosamente se arriscam no grande hospício que nós conhecemos por BRASIL.

O mel da vida, tiram-no!

Nada pode dar errado, planejei tudo, vai ser o melhor dia da vida dela! Comida, bebidas, tudo está ok. Flores, velas, música, tudo perfeito. Agora é só esperá-la e pronto, será uma noite inesquecível!
Mal ele sabia que a estava certo, seria uma noite inesquecível, mas a música, a comida, nada que havia preparado seria aproveitado por ela. Era aniversário de namoro daquele casal, o namorado, apaixonado, preparou tudo como no sonho que a amada lhe contara há alguns dias antes. E de repente, o estrondo! É tiro? Ele se pergunta, enquanto as balas tintilam sob a sua sacada – ele mora no terceiro andar do prédio. Quando toma coragem e se ergue para espiara de sua janela lateral, avista um corpo no chão e em um rompante de curiosidade, se dirige à porta, disposto a prestar solidariedade àquela vítima, ainda desconhecida.
Na entrada do prédio, um paredão humano, instantaneamente se formara; mesmo assim, ele o vence e se aproxima do corpo sufocado – a quem diz que foi o amontoado de gente que tirara a vida dela – é quando se envolve num misto de desespero, medo, raiva... Depois de descobrir que ela tinha saído do táxi bem na hora da troca de tiros entre os ladrões, que minutos antes estavam dentro da joalheria, vizinha frontal do prédio e a polícia, que atendera ao disparo do alarme do sistema antifurto que o joalheiro instalara semanas antes.
Tomado pelo vazio, debruçado sobre o corpo, que há um dia também estava em seus braços, porém feliz pelo ano de união que comemorariam no dia seguinte. Agora o sentimento era outro. Tomado pela dor, com um grande esforço, indagou-se, aos berros, por quê? Foi quando alguém se aproximou e lhe contou: dois homens teriam pulado das vidraças estilhaçadas da joalheria, desesperados pelo soar do alarme, assim que a polícia chegara, com suas sirenes acionadas e armas empunhadas. Com a aproximação dos fardados, os bandidos começaram a atirar, tiros esses respondidos pela lei, bem no momento em que aquela bela mulher, impecavelmente maquiada, com um vestido branco e longo, descera do carro e segundos depois, caia no chão. O vestido fora presente, dele no último natal. Ela estava guardando-o para aquela noite, um lindo vestido branco, que agora trazia, como que num detalhe destoado, uma mancha vermelha, próxima aos seios.
Foi quando outra sirene surgiu ao fundo, eram os bombeiros que atenderam a um chamado de alguém entre a multidão, eles abriram caminho e se aproximaram da vítima, mas inutilmente, pois morrera no instante que fora atingida. O corpo foi tirado dali e ele como única pessoa próxima, já que a família morava no interior, o acompanhara.
Assim, a noite se tornou inesquecível para aquele casal, os dois puderam aproveitar os preparativos e mais ainda, puderam sonhar. Ele, contudo, a partir daquele momento, passou a tentar entender. Seria melhor que não tentasse.
O tiro veio da polícia, os bandidos desapareceram, nunca mais souberam deles, a não ser que já tinham sido PM’s, as jóias também nunca foram recuperadas. Os policiais cruzaram fogo com os antigos colegas, pois estes faziam parte de um grupo rival, que se formara dentro da corporação e disputavam a segurança daquela região.
O jovem que pretendia pedir a namorada em casamento aquela noite, por não se contentar com as explicações oficiais, passou a investigar. Antes ter apenas aceitado, soube que o tiro partiu da polícia e que não havia necessidade de ter sido feito, só fora por se tratar de gangues policiais.
Hoje os assassinos continuam nas ruas, “protegendo” a violência, dos cidadãos que revoltados, ainda sonham com ruas de paz.
E o rapaz, desanimado, ainda procura forças para conseguir entender por que o mundo não permite pessoas felizes, se amando.

SOMOS?

Nada somos, pois por nada buscamos
Vivemos dos ventos desencontrados
Vivemos dos ventos soprados pelo vazio
E o vão se forma, dos ventos vãos.

Da vida, brigamos por tudo
Do tudo, procuramos os quês,
Dos quês, esperamos os por quês,
Com os porquês, chegamos aos tudos;
Tudos recheados de coisa alguma!

Vida, somos, ventos, quês, porquês, tudos...
NADAS!